22/01/2009

O lado piriguete apaixonado de Woody Allen

Vicky Cristina Barcelona foi um dos melhores lançamentos de 2008, conquistando o Globo de Ouro de melhor filme de comédia/musical. Faltou ser indicado ao Oscar, viu?



O mais recente longa do diretor norte-americano Woody Allen, Vicky, Cristina, Barcelona é o seu quarto filme rodado inteiramente fora dos Estados Unidos.O primeiro, Match Point (2005), foi rodado na Inglaterra, enquanto que o mais recente, na Espanha.

O curioso é que esses dois filmes são, de longe, um dos melhores trabalhos que Woody Allen fez. O próprio diretor reconheceu que Match Point foi o seu melhor filme (e eu concordo com ele). Vicky Cristina Barcelona, por sua vez, é um sério concorrente a segundo melhor trabalho de Allen.

De uns tempos para cá, o diretor abriu mão do romantismo que floreava seus filmes (vide A Rosa Púrpura do Cairo, A Era do Rádio e Noivo Neurótico Noiva Nervosa) e se aventurou numa nova concepção sobre o amor; seus personagens, agora, são pessoas instáveis e impulsivas experimentando a vida de uma maneira avassaladora.

Em Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen (que também assina o roteiro, como de costume) cria uma narrativa tensa e densa. As amigas Vicky e Cristina (interpretadas por Rebecca Hall e Scarlett Johansson respectivamente) viajam para Madri. Vicky tem como objetivo pesquisar a cultura catalã para sua dissertação de mestrado, enquanto que Cristina quer apenas espairecer depois de terminar um relacionamento. Durante sua estadia, elas conhecem um artista plástico galanteador, Juan Antonio(Javier Bardem) que mantém um relacionamento conflituoso com a ex- esposa Maria Elena (Penélope Cruz).

O filme conta a história de pessoas insatisfeitas com suas vidas amorosas. Vicky está noiva de Doug, e diz amá-lo muito, mas não parece que está muito feliz ao lado dele. Cristina desistiu de encontrar sua alma gêmea e pretende se contentar em se envolver em relacionamentos casuais. Juan Antonio e Maria Elena têm temperamentos muito diferentes, não se amam mais, porém sentem um absurdo tesão um pelo outro.

A essência do filme pode ser resumida na frase dita por Maria Elena. “Só o amor incompleto pode ser romântico”. O romantismo aqui é visto como algo deficiente. Romantismo é amar sem, necessariamente, ter paixão. Romantismo é como os filmes antigos do diretor, algo sentimental demais. Amor é bom, mas o que precisamos é, antes de tudo, de paixão.

Não se trata de um filme de amor e sim de um filme sobre tesão, traição e (in)satisfação. O filme nos pergunta se vale a pena viver com a pessoa que se ama mesmo que não haja paixão no relacionamento. A traição aqui é justificada pela busca incansável do ser humano em sentir-se completo – não temos culpa de querer sempre o melhor para nós.

Ah, uma outra frase emblemática do filme é do narrador se referindo à Cristina como uma americana “com alma européia”, longe “da cultura puritana e materialista” como a dos EUA. Podemos aproveitar essa referência e aplicar aos recentes filmes de Allen. Parece que longe da terra do Tio Sam, o diretor escreve e dirige com mais paixão.

2 comentários:

Danielle Luciano disse...

Vou assistir hoje! Depois dou minha opinião!

Fernanda Fiuza disse...

Sempre destestei os filmes do Wood Allen, acho-os chatíssimos e não valem o frisson que gira em torno do cara... até assistir Match Point e considerar que ele se redimiu comigo...
Valeu a indicação!