01/04/2009

Drama de Jonathan Demme traz referências do Dogma 95 e talento de Anne Hathaway

Não tem como assistir O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married) sem nos lembrarmos do movimento europeu Dogma 95. Para começar, a própria temática familiar do filme se parece um bocado com o roteiro do dinarmarquês Festa de Família (Dogme 1 - Festen, 1998), longa percursor do Dogma. Claro que O Casamento... não seguiu a risca todo o "voto de castidade" proposto pelo Manifesto Dogma 95, mas se utilizou de muitas de suas regras como o uso da câmera na mão, da iluminação ao natural e dos sons ambientes. 

Mas as semelhanças com o manifesto não vão muito além. Enquanto que no Dogma o nome do diretor não figura nos créditos, os produtores de O Casamento... não pouparam associar o nome do conceituado diretor Jonathan Demme (vencedor do Oscar de melhor direção por Silêncio dos Inocentes) à pelicula. Além do mais, no próprio trailler, o filme já é classificado como "drama", enquanto que, para o manifesto, são inaceitáveis filmes de gênero (como se isso fosse possível, convenhamos).

Mas vamos ao filme. Kym (Anne Hathaway)é uma jovem alcoolatra e viciada em drogas que consegue um final de semana de folga da rehab para ir ao casamento da sua irmã, Rachel (Rosemarie DeWit). Sua visita, embora muito celebrada pelo pai, madrasta, mãe e irmã, traz à tona alguns problemas familiares mal resolvidos. A lembrança da morte trágica do irmão caçula (que teve como consequências o divórcio dos pais e o fundo do poço para a jovem drogada Kym) faz com que os membros da família revisitem seus conceitos sobre a vida e, principalmente, sobre seus laços.

Todos nós temos, já tivemos e sempre teremos conflitos familiares. Por isso, filmes com essa temática sempre tendem a despertar a empatia dos nós, espectadores. O Casamento de Rachel não é uma exceção, mas ao contrário de filmes como Feriados em Família, por exemplo, o longa de Damme não se compromete fazer uma leitura delicada e bem humorada sobre nossas relações familiares. O Casamento de Rachel é agressivo e intenso, assim como são os conflitos de nossas famílias.

Apesar do ótimo roteiro, o filme se sagra pelos trunfos individuais. A Kym rendeu à Anne Hathaway uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Após estrelar os dois filmes Diário da Princesa e esboçar bons papéis em O Segredo de Brokeback Mountain e o Diabo Veste Prada, Anne finalmente conseguiu mostrar que tem cunhão suficiente para interpretar personagens vicerais. Enquanto isso, Damme consegue fazer um filme de qualidade à altura de seus clássicos O Silêncio dos Inocentes e Philadelphia.


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