11/11/2009

Resenha: Faith No More em Belo Horizonte (09/11/2009)

O Faith No More encerrou no último domingo, em Belo Horizonte, a sua passagem pelo Brasil. Depois de quatro shows (Porto Alegre, no dia 3; Rio de Janeiro,  dia 5; São Paulo, dia 7; e Belo Horizonte, 9 de novembro), a impressão que ficou foi a de que a banda jamais deixou de ter aquela vibe de 1991, quando fez história no Rock In Rio II.
 
Foto: Rafaela Freitas

Mike Patton e Billy Gould (ao fundo) durante show fo Faith No More em Belo Horizonte

O Chevrolet Hall não estava completamente lotado, mas o público pagante do Faith No More talvez tenha sido um dos melhores em um show internacional de rock na casa. Três tentos.  A acústica do ginásio – que não costuma ser boa – não comprometeu dessa vez, embora, em certas músicas, a guitarra do Jon Hudson parecesse estar mais alta do que os demais instrumentos. Pelo menos, não houve qualquer indício de microfonia. Avance duas casas.

No lugar e na hora errados estava a banda mineira monno (assim, em caixa baixa), que, musicalmente falando, nada tinha a ver com a banda principal da noite. Não empolgaram o público, afinal, a noite era do FNM. Só deles. Volte para o início.

Eram quase 21h quando as luzes se apagaram. Celulares e câmeras em mãos. Era o Faith No More indo para o palco. O público tentava adivinhar qual seria a música de abertura: Reunited ou a instrumental Midnight Cawboy? Foi a segunda. De acordo com o setlist “padrão”, a próxima música seria From Out Of Nowhere e todos já estavam preparados para cantar com Mike Patton pela primeira vez. Eis que o bumbo da bateria de Mike “Puffy” Bordin anunciava a primeira surpresa da noite: The Real Thing, música que tinha sido cortada dos últimos setlists. Gol do Faith No More. E que golaço! O público começou a vibrar, a chorar e se abraçar. Pelo jeito, The Real Thing é a música favorita de muita gente, e não só dessa pessoa que vos escreve.

O público não cantava, mas gritava cada palavra deThe Real Thing. Em seguida, mais duas porradas: Land of Sushine e Caffeine. Mas não antes de Mike Patton se dirigir pela primeira vez ao público, dizendo, em português: “Boa noite, Horizonte... Belo!”. Para descansar, uma baladinha. Mike Patton, aproveitando a derrota do Atlético-MG para o Flamengo, fez questão de “dedicar” a versão em português de Evidence, ao time de coração do seu grande amigo Paulo Junior (baixista do Sepultura), que também estava no show. Em português, disse, ironicamente, “tristeeeeza”, arrancando risadas não só de cruzeirenses, como também de atleticanos. Afinal, não dá para ficar “de mal” do Psicopatton.

O primeiro grande mosh foi formado em seguida: Surprise! You're Dead!. Para acalmar um pouco os ânimos, uma menos pauleira: Last Cup of Sorrow (cujo clipe é baseado no filme Vertigo, de Alfred Hitchcock).  Graças aos chilenos, o Faith No More adicionou a sensacional Ricochet, do álbum “loucão” King for a Day... Fool for a Lifetime, aos setlists da tour sulamericana, inclusive o de BH.

Roddy Bottum dedilha no teclado o famoso cover do Lionel Ritchie e The Commodores, Easy. O público cantou com eficiência, mas nada de histeria. De fato, era um show só para fãs, que não costumam morrer de amores por essa música. Ao contrário de Epic, que foi esbravejada por todos, com muito gosto.

Em seguida, outra pauleira: Midlife Crisis, com direito à galera cantando sozinha o refrão. Na pausa, Mike Patton perguntou se o público queria ouvir “Like a Virgin” da Madonna. Recebeu um sonoro “NÃÃÃOO”, infelizmente (Vão me dizer que não ia ser demais?).

Mais um momento relax. Patton pega um chocalho para tocar durante a “bossa-nova” Caralho Voador, emendando com a música "Ela é Carioca". Ao contrário do “Ela é Paulista”, em São Paulo, Mike não arriscou um “Ela é mineira”. Hora de  The Gentle Art of Making Enemies e mais alguns moshes. 


King for a Day anunciava não só o fim iminente do show, como também os primeiros gritos coletivos de “Porra, Caralho!” promovidos pelo incansável Patton. Até que, em Ashes to Ashes, o “Porra, Caralho” do público funcionou como uma espécie de sample. A banda começou a se despedir. Patton diz que aquele era o último show que o FNM faria no Brasil. Não sabendo se ele se referia à atual turnê ou se era um aviso de que a banda não iria mais continuar na estrada após The Second Coming, o público não perdeu tempo e gritou outro sonoro “Nãããoooo”, arrancando risadas do vocalista que, em português, finalizou “É verdade!”.

Tocaram Just a Man. Durante oito minutos, Patton orquestrava coreografias com o público. Saíram do palco. Depois de menos de cinco minutos de gritos de “Porra, Caralho”, “Faith No More” e “Falling to Pieces”, a banda retorna ao palco para tocar Stripsearch, com direito à abertura de Chariots Of Fire e mais sample com palavrão. Fecharam a noite com a outra surpresa: Mark Bowen, raramente tocada nesta tour. O programado segundo bis, com a clássica We care a lot, não veio. Informações não confirmadas dão conta de que o tempo do show estava para ultrapassar o que havia sido combinado no contrato com a casa de shows. Dessa forma, a banda não pôde voltar para se despedir do público pela última vez. 


Em suma: foi um show fantástico. A banda continua com o mesmo fôlego de antes. A cozinha de Billy e Puffy funciona de forma impecável e brutal. O teclado de Roddy emociona (quem não arrepia naquele final de Epic?). Jon Hudson, único integrante que não estava na banda durante a formação clássica que tocou no Brasil em 91 e 92, pode não ser o guitarrista favorito dos fãs - que preferem o “Big” Jim Martin -  mas é um cara muito simpático e mostrou competência nos riffs e solos. E sobre o Mr. 1000 Voices Psicopatton, só se pode dizer uma coisa: existem bons vocalistas, existem frontmen, existem showmen e, em última instância, existe Mike Patton. Um cara tão inclassificável (e genial) quanto o próprio Faith No More.











O grande pesar dessa mini-tour brasileira foi que a banda deu a entender que The Second Coming trata-se de um projeto passageiro. Apesar de alguns “maybes”, a possibilidade de continuarem na estrada e gravarem novos trabalhos parece ser quase nula. Quem não foi, talvez tenha perdido a última oportunidade de vê-los juntos e ao vivo.





Um comentário:

Marcelo Franco disse...

Mike Patton é o único ser no Universo que consegue fazer com que todos nós esperemos, felizes, ansiosos e de braços abertos, pela Crise de Meia-Idade... hahahaha

Será que nós temos a real noção da sorte que tivemos de fazer parte dessa turnê?